quinta-feira, 24 de março de 2011

O que pensa o brasileiro? Artigo J. do Commércio 18/03/2011  

 

 

 

Artigo do

Senador Cristovam Buarque


Qui, 24 de Março de 2011 16:13
Quem escreve fica muitas vezes pensando o que o leitor escreveria. Fica desejando saber qual a opinião do leitor. Pessoalmente, é este sentimento que tenho ao saber que o governo do Brasil vai consumir até R$ 142 bilhões para conseguir trazer para cá a Copa do Mundo de 2014. Com as Olimpíadas de 2016, o orçamento inicial prevê gastos de R$ 29,5 bilhões, em infraestrutura urbana, construção e reforma de instalações esportivas, além de custeio do comitê organizador, quase oito vezes o que foi investido para tirar o Pan 2007 do papel (R$ 3,8 bilhões). Apenas para a Copa são esperados 10.500 atletas de cerca de 190 nações. Antes, porém, o Brasil recebe, este ano, os Jogos Mundiais Militares, em 2012, o Rio + 20 (Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável), e, em 2013, a Copa das Confederações.
Os custos acima são os básicos para levar os torcedores do aeroporto até ao estádio e hotéis, além de outras obras que servirão especialmente e quase exclusivamente à Copa e às Olimpíadas. Além disso, temos os projetos de construção do trem-bala, entre Rio e São Paulo, a um custo estimado pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) – de R$ 34,6 bilhões, e da hidrelétrica de Belo Monte, a um custo inicial de R$ 19,6 bilhões.
Durante a Copa, a maior parte dos torcedores nos estádios será de turistas de fora do País, poucos brasileiros estarão entre os torcedores que terão acesso aos jogos nos estádios. Quase todos nós vamos assistir aos jogos pela televisão, como assistimos a Copa do Mundo da África do Sul. Isto vale também para as Olimpíadas.
Isto se não valer para a Copa do Mundo a regra que vale hoje no Campeonato Brasileiro: os jogos não são transmitidos para a cidade sede do jogo, a não ser que o estádio fique repleto de torcedores.
Com este montante de dinheiro, seria possível melhorar radicalmente a vida do povo brasileiro, por meio de uma espécie de PAC da Saúde, do Emprego, do Transporte Público, da Educação, da Cultura, da Creche, da Moradia e da Urbanização. Desta forma, todos os brasileiros poderiam ter escolas em horário integral ou, ainda, creches para todas as crianças, ao custo de R$ 1 milhão cada, e Vilas Olímpicas para todos os jovens, ao custo de R$ 8 milhões cada uma. Além disso, seria possível urbanizar e humanizar inteiramente as cidades do País.
À primeira vista é difícil imaginar que gastar tanto dinheiro apenas para trazer os jogos da Copa e das Olimpíadas sejam um bom investimento. Em Brasília existem hoje dois grandes estádios: o Estádio Bezerrão do Gama e o velho Mané Garrincha, espaços suficientes para o número de torcedores. Foram apenas 35 mil torcedores em todos os campeonatos juntos nos últimos dois anos no Distrito Federal. Só no Mané Garrincha, o governo do DF gastará cerca de R$ 1,2 bilhão com a reforma, a fim de aumentar sua capacidade para 70 mil torcedores. Depois da Copa, Brasília precisará de quatro anos de jogos na cidade para lotar o estádio por causa do pequeno número de torcedores que se interessam pelo futebol da capital do País.
Mas, ao mesmo tempo, todos nós sabemos do orgulho que teremos com o fato de o Brasil receber jogos da Copa e das Olimpíadas. Sabemos que os jogos colocarão o Brasil no noticiário internacional, fará este País ainda mais conhecido e reconhecido mundialmente. E nós sabemos como hoje o Brasil precisa melhorar cada vez mais sua imagem e atrair cada vez mais turistas.
Por tudo isto, hoje eu queria ser leitor, ver e ouvir a opinião de quem está lendo este artigo.

Cristovam Buarque é Professor da UnB e Senador pelo PDT-DF
Fonte: Raimundo França  (Ratinho da Amazônia)

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